terça-feira, 21 de setembro de 2010

O NASCIMENTO DA PESQUISA SOBRE MACHADO SOBRINHO

É importante registrar que Juiz de Fora, desde o final do século XIX, concomitante à criação da Academia Brasileira de Letras, já se preparava para reunir seus literatos.
                        A Confraria Literária Mineira foi precursora, e dela saíram alguns dos membros fundadores da Academia Mineira de Letras que, criada em 25 de dezembro de 1909, em Juiz de Fora, comemora neste ano seu centenário. Por esse motivo, a Academia Juiz-forana de Letras, por intermédio de duas de suas pesquisadoras, publica este livro-registro. a partir do álbum de recortes de jornais, coletados pelo idealizador e primeiro secretário da entidade, o educador e escritor Machado Sobrinho.
            A pesquisa nasceu no âmbito da amizade e da família, por ter chegado às mãos das professoras e acadêmicas Leila Barbosa e Marisa Timponi o acervo do professor Machado Sobrinho. Guardado inicialmente por seu filho, Luiz Gonzaga Machado Sobrinho e após por sua neta, Heloísa Machado Sobrinho, que o recebeu como legado cultural e familiar, tendo dedicado-lhe preciosos cuidados de preservação, chegou, com seu falecimento, às mãos de seu outro neto, José Carlos de Castro Barbosa, marido da pesquisadora Leila Barbosa. O  álbum encontrava-se em meio a manuscritos de livros e poemas. Consiste em um caderno de atas, contendo recortes dos jornais que datam desde a época que antecedeu a criação da AML (setembro de 1909), sua permanência em Juiz de Fora até a transferência para Belo Horizonte, em 1914[1].
            É, pois, um trabalho de resgate e registro de datas significativas, de grandes acontecimentos artístico-culturais de Juiz de Fora, como o livro lançado pelas autoras em 2006, comemorando o centenário do monumento do Cristo Redentor.
            O historiador e cronista Paulino de Oliveira liga a criação da Academia Mineira de Letras ao centenário de Alexandre Herculano, uma vez que, dias depois da sessão solene (13 de maio de 1910) com que se festejou na cidade aquele acontecimento, sessão à qual compareceram os acadêmicos fundadores, eles propuseram à Câmara Municipal a mudança do nome de um trecho da rua Batista de Oliveira, para o do imortal escritor:

O prestígio da Academia, que tinha como Presidente de ''Honra” Augusto de Lima, cresceu tanto em tão pouco tempo, graças ao escrúpulo com que se escolheram seus primeiros membros - escrúpulo que ainda hoje se observa, ao contrário de outras instituições do mesmo gênero existentes no País - que quatro anos depois a capital do Estado pleiteou e conseguiu sua transferência para ali, onde residia a maioria de seus componentes[2].

            Machado Sobrinho foi quem lançou o alicerce para a fundação e instalação da Academia, sendo pois a alma de tão brilhante sodalício e cuja ação foi a princípio combatida, senão ridicularizada, especialmente por alguns apressados que não conseguiram penetrar no seio dessa sociedade nova, mas que já nasceu seleta. Por ocasião de sua instalação, as dificuldades financeiras da Academia levaram Machado Sobrinho a redigir um requerimento, solicitando ajuda à Câmara Municipal.
            Juiz de Fora, naquela época, possuía grande desenvolvimento e suas muitas indústrias e seu estilo arquitetônico motivaram-lhe o epíteto de ¨Manchester Mineira¨. A cidade adotara conceitos urbanísticos e de higiene vigentes na Europa, a respeito não só do planejamento quanto do saneamento urbanos, o que levou Sílvio Romero a denominá-la, não sem um lastro irônico, de ¨Europa dos Pobres¨. Rui Barbosa, porém, preferiu nomeá-la “Barcelona Mineira” e Artur Azevedo “Atenas Mineira”, levando em consideração o desenvolvimento cultural representado por numerosos e importantes colégios, pelos inúmeros jornais editados desde 1870, e pela Confraria Literária Mineira, fundada em 1886, o que a colocava como a primeira de Minas. Ao invés dos sinos mineiros chamando os católicos para as igrejas, o que se ouvia eram os apitos das progressistas fábricas, convocando a população para o trabalho, brilhantemente retratado por Lindolpho Gomes no hino da cidade:
                                  
                                   Das cidades brasileiras,
                                   Sendo a mais industrial,
                                   Na cultura e no trabalho,
                                   Não receia outra rival!
           
            Este livro possui caráter documental que será respeitado pelas autoras-organizadoras, com pequenas modificações como a colocação dos artigos e notas dos recortes de jornais em ordem cronológica e a transcrição dos textos para a ortografia atual, permanecendo os nomes próprios e os trabalhos de Lindolpho Gomes propositivos de uma reforma ortográfica na forma original. Ainda foram retirados os textos repetidos, com referências no rodapé.
            Cumpre-se, portanto, o objetivo de trazer a público a história da fundação da Academia Mineira de Letras, seu período inicial, constituindo-se em mais uma iniciativa pioneira da cidade que é “o primeiro sorriso de Minas Gerais”[3].
O que se almeja ainda com este livro é ter cumprido o papel de preservação de um bem cultural das Gerais que, aliado à produção e à divulgação, vem recuperar a história dos escritores que compuseram o primeiro quadro dos acadêmicos, membros perpétuos da Academia, sua biografia e sua importância no cenário das letras; analisar as obras mais significativas dos acadêmicos para a contextualização histórico-literária da Academia Mineira de Letras.



[1] Tal acontecimento assemelha-se ao vivenciado por nosso ex-presidente Itamar Franco, pois, quando de sua permanência em Roma como embaixador do Brasil, encontrou documentos relativos à Academia Brasileira de Letras, que foram reintegrados ao acervo do Brasil. 
[2] OLIVEIRA, Paulino. História de Juiz de Fora. Juiz de Fora, MG: Companhia Dias Cardoso, 1953. p. 195.
[3] BANDEIRA, Manuel.  Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986. p. 137-8.

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