terça-feira, 21 de setembro de 2010

A LITERATURA DE JUIZ DE FORA E ALGUNS DE SEUS EMBLEMAS

A VOCAÇÃO DE JUIZ DE FORA
"Fazenda do Juiz de Fora no século XVIII, Vila do Santo Antônio do Paraibuna em 1850, Cidade do Paraibuna em 1856, a localidade voltou a ter a primitiva denominação em 1865, quando o art. 13 da lei provincial 13, de 19 de dezembro, determinou: ‘A Cidade do Paraibuna denominar-se-á Cidade do Juiz de Fora‘”. (cf. Paulino de Oliveira, História de Juiz de Fora. Juiz de Fora: Companhia Dias Cardoso, 1953, p.63). 

Juiz de Fora é uma cidade culta. O poeta Murilo Mendes dizia que era uma ilha cercada de pianos por todos os lados, referindo-se à musicalidade de Juiz de Fora nos princípios do Século XX. Como se vê, já naquela época eram mostrados seus dotes culturais musicais. Mas não era somente na música que era exposta sua cultura. Havia produção de qualidade nas artes plásticas, na poesia e na literatura, que foi multiplicada através das décadas futuras. Se você gostou deste livro, que é apenas um aperitivo, procure ter intimidade com as obras dos escritores locais. Certamente vai se surpreender com a pujança dos textos saídos das mentes férteis de nossos escribas. (Maurício Hugo Gama de Menezes)
LITERATURA DE JF EM BUSCA DE IDENTIDADE
MORRO DO CRISTO - NOSSO CRISTO REDENTOR
Ó Cristo Redentor! Que a Tua mão
Eternamente para os céus alçada
Seja o guia seguro na jornada
Que levamos buscando a salvação.
Ó Cristo Redentor! Porque este plinto
Em que os homens puseram-Te em pé,
Se eu, amado de sincera fé,
No fundo de minh'alma é que sinto?!
(Belmiro Braga)
  
- Céu baixo riscado por chaminés
a cidade ajoelhada olha o Morro do Cristo
Ouve os apitos das fábricas
L O N G A M E N T E
e fica pensando
que foi escrita por Dostoievsky.
(Edmundo Lys)

Monólogo da Princesa de Minas
Eu vim das selvas! No Caminho Novo,
armei a grande tenda do meu povo
que se espalhou por amplos horizontes,
crescendo com energia extraordinária,
nos vales e rochas, nos plainos e montes.
Sou Juiz de Fora, - a urbe centenária!
Andando em busca do que é santo e puro,
neste caminho glorificador,
venho de antanho e vou para o futuro,
sob as bênçãos do Cristo Redentor.
(Geralda Ferreira Marques Armond)

Do alto do "Cristo" eu a diviso, com seus arranha-céus, que parecem nivelar-se às colinas e a sintetizo em minha retina e a embalo no arrelvado do meu coração. Que seu “aplomb” metropolitano nunca lhe tolde o comedimento montanhês. Contemplando-a, avalio a operosidade de sua gente, rememoro-lhe a nobreza da tradição e confesso: " Amo-a, mercê da expressão de seus artistas, da vibração de seu universo cultural, do seu afã fabril, do contributo de suas forças vivas, enfim, do diversificado pulsar que a faz progredir". (Creusa Cavalcanti França - Diário Regional)

Nos apertados olhos das montanhas
os meus os guardei de pecadora
adolescente. E parti... Na lembrança
o rumor das águas pardacentas. A poesia:
asa de borboleta, rubra pétala de papoula em manhãs
cinzentas. A poesia.
(Na voz castanha do Paraibuna
saudava Murilo Mendes os rios todos
do mundo). Sobrevoei
o morro do Imperador com seu pequeno Cristo
Redentor.
Além dos morros, um mundo (...)    
(Maria Thereza Noronha)

Menino louro
Azul de olhos
Bambu fino na mão
Batuta de mestre
Desperta as mulas
Continuando a missão
Do passeio
A voz fina da meninada inflamada
Mistura-se ao barulho
Lento dos cascos
Alemão cascudo
Carrapato, barrigudo
Alemão cascudo
Carrapato, barrigudo
A mulher e o menino
Olhares fixos
No Cristo Redentor
Sobem para São Pedro. (Paulo de Tarso Andrade)

o passo domado do paraibuna, a rua halfeld, o morro do imperador, o molde grave dos casarões do bairro granbery, o tanque de guerra que ainda sitiava, na praça deserta, o cadáver cujo nome recusamos. cujo nome era nume e número: 1964. (Iacyr A.de Freitas)
HALFELD: RUA CON-VER-GENTE
Sim, porque quantos e quantos marmanjos tenho eu visto pela manhã arrastando misérias, pingando mulambos, completamente aleijados, rostos cadavéricos, implorando à caridade; e de tarde, bem aprumados, passeando pela nossa Ouvidor, que é a nossa rua Halfeld!! (...) Tem a nossa Princesa, portanto, tudo quanto têm as grandes cidades. Viva o progresso.
                                                                                   (Antônio Bernardes Fraga)
Certa noite, na rua Halfeld, soldados ébrios descarregaram os fuzis a esmo, numa desordem, e o povo debandou por todos os lados, esvaziando a via pública em menos de trinta segundos.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           (Gilberto de Alencar)
Escrevo sobre a rua Halfeld sem situá-la no espaço, ocupando-me somente com as pessoas que a percorrem. Nada a fazer: assim sou eu, ponho sempre em primeiro lugar as pessoas. Direi entretanto que a rua Halfeld é uma reta muito comprida, começando às margens do Paraibuna e terminando na Academia de Comércio. Nos dois lados levantam-se casas, sobressaindo, pelo menos no meu tempo de menino, a Livraria Editora Dias Cardoso, uma das minhas delícias de então; e a Casa da América, sortida com uma infinidade de objetos e instrumentos de toda a espécie; delícia e terror, pois entre eles torqueses, serrotes, martelos, tenazes, tesouras, alicates.
                                                                                                       (Murilo Mendes)
Rua Halfeld
Conheço mais afamadas: Ouvidor, Imperatriz. Já vi mais bonitas: Paissandu, Senador Paula. Outras são mais extensas: Rio de Janeiro, Senador Pompeu. A outras quero mais: Dona Cândida, Comendador Rocha. Nenhuma, porém, mais singular que esta ruazinha pequena, estreita edesnivelada, que se reclina, confortavelmente, sobre esse monumental travesseiro de veludo chamalotado – o Morro do Imperador, passa se espreguiçando pelo centro da cidade, dando aqui acolá, pulos sobre si mesma, para mais adiante banhar-se tranqüila nas águas do Paraibuna. Rua que tem uma doce filosofia, rua onde cada um se sente como se fora a própria casa. A rua do “Salvaterra”, o bar onde a gente passa uma tarde sentado, o garçom se aproxima, um pede “Sombra e água fresca!” – o outro: “Me deixe em paz!” – e ele vira as costas sorrindo e, se a gente resolve no fim tomar um “chopp” ainda se tem o direito de reclamar por ser 50 centavos a mais que no botequim do bairro. A rua da Velha Celeste (eu hein?!...) alta, magra, ora simpática, alisando a gente, ora com horrendos esgares, praguejando, chorando, inofensiva sempre. A rua da Maria, a doidinha de braços cruzados que conhece a todos por um nomezinho e sempre tem o que falar. A rua onde Peneirão gostava de mostrar suas condecorações... A rua onde o Jambica exibia seu peso, distribuía sua simpatia.
                                                                                   (João Dias Ibiapina)
Poema a Juiz de Fora
Juiz de Fora do “Piriá”,
Machado velho sobre o ombro
Magricelo,
Ameaçando a molecada irreverente.
Juiz de Fora de “footing”
Na rua Halfeld,
Venenos políticos
Vendidos no cafezinho
Santa Helena,
De maledicências
Nascidas nas mesas
De ferro do Salvaterra.
                                (Dormevilly Nóbrega)
Mas esses mesmos incansáveis obreiros arranjam seu tempinho para o futebol, a novela de rádio, a sinuca, a reunião soçaite ou bate-papo na rua Halfeld. Nada tenho contra essas atividades, algumas
muito salutares e edificantes, outras nem tanto, mas todas muito normais, eu mesmo pratico essas coisas, como toda a gente.                                                                            
                                                                                              (José Carlos de Lery Guimarães)
Toma-se por exemplo a Rua Halfeld, a artéria principal. Realmente é inigualável dado que converge as atenções, os negócios, é o ponto de visita da cidade. Porém a sina, ou saga, a divide em partes, parte alta e baixa. Como que predestinada, a parte baixa é relegada à absoluta fealdade e ao descaso. Nada prospera aí, indo desembocar em uma triste Estação onde o próprio tempo descarrilha
                                                                                                    (Roberto Mendes Gróia)
não volto mais pra catar conchas
onde não há mar.
desembarco meu verso bem ali
na esquina da Halfeld
com Rio Branco
          - e vou catando gente
nas areias do calçadão.
                                                                            (Márcia Carrano)
 Rua Halfeld
 Juiz de Fora é assim, muito mulher.
 Menina-moça nas tardes ensolaradas da Halfeld.
 A vó e tia nas janelas de onde se vê o tempo passar,
 Vazia e triste nos domingos à tarde, quase noite. (Luiz Carlos Correard Ferreira)
PEGANDO O BONDE
"Veja, ilustre passageiro,
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado...
E, no entanto, acredite
Quase morreu de bronquite
Salvou-o o Rum Creosotado"...
Amava também o bonde, o seu trajeto, curtíssimo, na época me parecia enorme. Costumava vagar nele pela cidade. Passava em frente ao Museu Mariano Procópio. Essa casa, graças a Deus, conservaram.     (Rachel Jardim)

Nasci nesta Juiz de Fora
das fábricas e cultura.
Feliz de quem aqui mora
vivendo tanta ventura!

Teus bondinhos, Juiz de Fora,
não me saem da lembrança.
Descendo Avenida afora
iam cheios de esperança 
(Vera Maria de Lima Bastos)
No dia 15 de novembro de 1881, Juiz de Fora já possuía os seus bondes. Melhoramento que nem mesmo Ouro Preto, a Capital da Província, podia se orgulhar de ter. Também, pudera, lá, subindo e descendo montanhas, só mesmo cabrito os puxando.
                                                                                                       (Renato Mattosinhos)                                                    
Encerrada a festa de entrega do disco, um outro momento começava, já agora com um misto de alegria e tristeza. O último bonde de Juiz de Fora ia ser definitivamente recolhido às oficinas da Prefeitura, no Alto dos Passos. No ponto central da Rua Direita, de frente para o Restaurante Rio Lima: - lá estava o velho e querido bonde, pronto para sua última viagem! Na mesma direção, do outro lado da Rua Direita, com portas de madeira vai-e-vem, bem ao estilo dos "saloons de far-west", ficava outro bar e restaurante de primeira linha, com um vistoso "Gato Preto" em sua placa de identificação. (...) os fregueses do Gato Preto também queriam participar da festa de despedida do derradeiro veículo elétrico sobre trilhos de Juiz de Fora. Na direção do bonde, como motorneiro, Pedro Ferreira não conseguia esconder a lágrima que teimava em molhar sua face. Ao seu lado, no banco dianteiro, Roberto Medeiros e Dormevilly fundiam sentimentos, sem qualquer preocupação com  indisfarçável tristeza que os embalava naquele momento histórico. (...) O progresso pedia passagem. A Rua Direita, com suas árvores do fruto jalão pelas calçadas, colorindo o chão sob sua copa, e também a roupa dos descuidados, com nódoas da cor violeta, tornara-se pequena para as moderníssimas e possantes máquinas que por ali trafegavam.                                                              
                                                                                                    (Carlos Roberto Pimenta)
 Traçado -   de trilhos lineares,
lembranças de tempos alados.
Estribos e infância.
Firmamento em movimento,
namorados e descobertas
. 
(Lucília de Almeida Neves)
      Era o Bonde do Jardim de Infância. Ele levava os alunos do pré-escolar, como se fala hoje. O bonde saía de São Mateus, andava pela cidade toda até chegar no Mariano Procópio. Era uma festa. Para a gente não cair no meio daquela bagunça toda, o bonde era fechado nos lados, por uma cerquinha de madeira.
                                                                                          (Maraliz de Castro Vieira Christo)

Um comentário:

  1. A Rádio Cultura de Santos Dumont-MG, "a terra do PAI DA AVIAÇÃO", cidade de 50 mil habitantes, na Zona da Mata Mineira, região de Juiz de Fora, fundada em 17 de agosto de 1948 é uma emissora administrada pela Sociedade Mineira de Comunicação.
    Direção: Sérgio Rodrigues, João Begatti e Carlos Ferreira.
    www.radioculturasd.com.br
    twitter.com/radioculturasd
    http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=97354075
    CULTURA ACONTECE: De segunda/sábado, de 08 às 10, com Jorge de Castro e participações de Sérgio Rodrigues, Carlos Ferreira e João Begati.
    VEM AÍ O CAMPEONATO MINEIRO 2011:
    29/01, direto de Juiz de Fora
    Tupi (Juiz de Fora) e Villa Nova (Nova Lima)
    Com Edson Palma, João Begati, Carlos Ferreira, Sérgio Rodrigues, Evandro Begati e Guilherme Galdino.

    Leia mais aqui no BLOG:
    www.carlosferreirajf.blogspot.com

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